segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Evangélicos mais para Código Penal do que para Bíblia...

Percival de Souza

Choque ético

“Até quando nós, cristãos, vamos permitir que posturas materialistas se sobreponham à autenticidade da Palavra? Que certos grupos e pessoas se aproximem mais do Código Penal do que da Bíblia?”

Não podemos mais fazer de conta de que isso não é conosco. Precisamos recolocar algumas coisas essenciais nos devidos lugares – desvios éticos, morais e doutrinários nos deixam envergonhados, não do Evangelho, que jamais nos envergonhará, mas da postura lamentável de certas pessoas e grupos que se apresentam como se fossem “evangélicos” e causam profundas decepções e amarguras. Ou seja: se tais grupos e pessoas pretendem se apresentar como modelos de sal e luz para um mundo que precisa ser salgado e iluminado, seus atos e comportamentos precisam ser compatíveis com o cristianismo e a fé dele decorrentes.

Sensível, o poeta Mário Quintana disse bem: “Todos esses que aí estão/Atravessando meu caminho/Eles passarão.../Eu passarinho!” Se podemos ser pássaros, não queremos e não devemos nos deixar aprisionar em gaiolas de falsos companheirismos, falsas interpretações, falsos conceitos, falsas doutrinas. Mercenários construtores de gaiolas pretendem ludibriar; falam menos de Deus e mais do diabo, e ousam pregar que ser bem-aventurado é possuir e acumular bens que traças corroem. Pior: fazem um proselitismo personalista, pelo qual se apresentam como passaportes humanos para obter conquistas. Em outras palavras, em primeiro lugar eles (que chegam a ser venerados por incautos), e depois o Senhor. Pior: hereticamente, dão “ordens” para Deus, “mandando” que o Senhor faça isso ou aquilo em horários e endereços pré-determinados.

A Deus nada se impõe ou se exige. Para Deus, apenas pedimos. Suplicamos; endereçamos preces. Sem cair no equívoco dos zebedeus, pretendendo que, na glória, Jesus os colocasse à esquerda e à direita. Resposta do Senhor: “Não sabeis o que pedis”. A fragilidade teológica de certos grupos e pessoas passa longe do que Paulo ensinou em I Coríntios 3.2, mostrando pedagogicamente a diferença entre nutrição espiritual para crianças e adultos, o leite e o alimento sólido.

Até quando nós, cristãos, vamos permitir que posturas materialistas se sobreponham à autenticidade da Palavra, sem a previsível – biblicamente falando – admoestação? Que certos grupos e pessoas se aproximem mais do Código Penal do que da Bíblia? Que preconceitos morais sejam impostos como receita de viver? Que desvios éticos e morais sejam acobertados e que a revelação da verdade seja escamoteada? Até quando vamos permitir desmandos, engodos, embustes, mentiras, estelionatos?

Há várias receitas bíblicas para prosseguirmos firmes no caminho. Uma delas é dada por Bartimeu. Veja-a em Marcos 10.46-52: ele era cego e mendigo. Vivia esmolando à beira da estrada para Jericó. Quando percebeu que Jesus passava, pediu por misericórdia. Foi atendido e voltou a ver. Imediatamente, passou a seguir Jesus. Vamos aprender com o professor Bartimeu. Professor da vida e de rumos certos!

Percival de Souza
é escritor, jornalista e membro do Conselho Diretor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista

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